Métodos de ensino
Nos
80 anos, as cartilhas foram o principal instrumento de alfabetização
dos brasileiros.
Cresce o número de representantes de uma novíssima
geração de livros que adotam práticas construtivistas
no seu método de alfabetização. Para quem conhece
essa linha de ensino, isso parece uma falta de senso. Cartilha construtivista?
- perguntará aquele construtivista que sempre execrou essas
obras, por considerar que elas não levam em conta o ritmo
individual dos alunos, nem as suas experiências anteriores.
Mas as cartilhas construtivistas não ensinam a ler a partir
das sílabas, como as tradicionais. Estão cheias de
poesias, canções, notícias de jornal, peças
de publicidade e outros textos do dia-a-dia que, acredita-se, retratam
a realidade e os interesses das crianças. Incentivam a produção
de textos, como bilhetes para os pais, mesmo que os alunos ainda
mal escrevam seus nomes. São práticas iguais às
das escolas construtivistas.
"Não há método certo ou errado",
defende o professor Paulo Nunes de Almeida, autor de Pipoca,
uma das mais vendidas cartilhas construtivistas. "Os caminhos
podem ou não podem ser adequados, de acordo com as habilidades
do alfabetizador", diz ele. "Para quem se prepara para
o trabalho, qualquer método trará bons resultados."
Métodos:
Tradicionais
O método começa pelas vogais
Quase todos os 82 milhões de brasileiros alfabetizados, que
têm mais de 15 anos, aprenderam a ler em cartilhas tradicionais.
O método varia muito pouco. Primeiro, elas apresentam as
vogais e depois as sílabas, até chegar às palavras
e às frases. Como o importante é a montagem silábica
e não o conteúdo, surgem frases com pouco sentido,
do tipo "O pato está ao pé do gato"
ou "A menina tem caju e boneca".
Muitas dessas obras fizeram grandes inovações didáticas
em sua época. A Cartiha do Povo (Editora Melhoramentos),
que ainda é publicada, associa as vogais aos dedos da mão
- novidade em 1928, quando foi lançada. Em 1950, saiu a Caminho
Suave (Editora Caminho Suave). A grande novidade introduzida
pela professora Branca Alves de Lima foi unir letras e ilustrações.
O "f" é o cabo de uma faca, o "c" o rabo
de um cachorro. "As sílabas vinculadas a desenhos elevam
o interesse pela leitura", diz ela.
Renovadas
Visual muda, mas conteúdo é o mesmo
Algumas cartilhas, que adotam com vigor o método da silabação
passaram por um processo de renovação. Elas capricham
na edição, têm ilustrações bem
cuidadas, listas de palavras para copiar, jogos de completar e cruzadinhas.
Apresentam textos de leitura curtos, que servem para fixar as palavras
estudadas, não para uma discussão do conteúdo.
Fora isso, repetem a linha pedagógica consagrada pelas tradicionais.
Construtivistas
Alfabetização com palavras inteiras
Nas cartilhas inspiradas no construtivismo, a alfabetização
é feita com palavras retiradas de situações
conhecidas pelos alunos, como brincadeiras e festas. Não
há preocupação em escolher termos fáceis.
Tenta-se mostrar aos alunos que a leitura é útil e
dá prazer. Para isso, são mostrados jornais, histórias
e receitas culinárias. A prioridade é interpretar
os textos. A decomposição de palavras em sílabas
é tarefa extra, feita com cruzadinhas e outros jogos.
Veja
as diferenças entre as duas formas de ensinar a ler.
Um
pecado original das cartilhas
Todas as cartilhas que estão hoje ao alcance do professor,
inclusive as construtivistas, cometem um idêntico e grave
deslize, dizem seus críticos: associam de maneira direta
a linguagem falada à linguagem escrita. Esse pecado induz
os alunos a ler de modo mecânico, no mesmo ritmo em que falam,
como se estivessem recitando, sem entender o conteúdo. "A
escrita deve ser vista como um sistema independente, não
como uma representação da fala", observa o especialista
em escrita e leitura José Juvêncio Barbosa. "É
por isso que se deve separar a fala da escrita desde o início
da alfabetização".
Não
basta alfabetizar
Nem todo mundo que aprende a ler é um bom leitor
O
alfabetizado
Nem sempre o alfabetizado tem claro o que quer de um texto. Ao ler,
transforma a escrita em fala. Prende-se à linearidade do
que está escrito e lê linha por linha, palavra por
palavra. Vai devagar, do começo ao fim. Como ler dessa maneira
é chato, cansa-se logo.
O
leitor
Sabe o que quer de um texto e como encontrar o que procura. Ao ler,
concentra-se no significado do que foi escrito. Lê blocos,
não palavras isoladas. Percorre o texto aos saltos, vai e
volta, em busca de informação. Sente prazer com a
leitura e não se cansa facilmente.
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Veja
as diferenças entre as duas formas de ensinar a ler:
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Alfabetização
com as cartilhas tradicionais
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Alfabetização
com as cartilhas construtivistas
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Método |
Começa
com as unidades mais simples da língua escrita (letras
e sílabas) e segue em direção às
mais complexas (palavras, frases e textos). Privilegia a memorização
das estruturas gramaticais, deixando de lado a compreensão
dos mecanismos da escrita. Na sala de aula, o professor enfatiza
as unidades menores da língua, desenvolvendo na criança
a percepção detalhada dos componentes da escrita.
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Parte
das unidades globais da língua (palavra ou textos) e
analisa seus componentes (frases, sílabas e letras),
para em seguida recriar os textos e as situações
apresentadas. É uma abordagem muito semelhante à
da alfabetização sem cartilhas. A compreensão
do significado dos textos é mais importante do que a
memorização. A propriedade é a percepção
abrangente das estruturas da língua. |
Processo |
O
aluno aprende por meio da associação entre imagens
e sons. Só produz textos próprios depois de dominar
boa parte das famílias silábicas e do processo
de formação de palavras. A escrita normalmente
é desvinculada de atividades práticas ou situações
do dia-a-dia das crianças. Usa-se muito a cópia
e o ditado como técnica de fixação de palavras.
A letra cursiva é explorada desde o início do
processo de alfabetização. |
Inicialmente
o aluno escreve de uma maneira particular, a chamada escrita
espontânea, e vai progredindo até chegar às
formas convencionais da linguagem. Utiliza a leitura e a interpretação
de textos variados, além de jogos com letras, palavras
e frases. Nos exercícios, predomina a letra bastão,
mas a letra cursiva também é exercitada. |
Materiais |
A
cartilha é quase o único material. Os textos de
leitura são curtos, em frases simplificadas e estão
desvinculados da linguagem oral. Buscam principalmente o uso
das sílabas já estudadas. Raramente se usam materiais
como livros de histórias, jornais, revistas e canções. |
As
cartilhas, com textos literários e informativos, devem
ser apenas o ponto de partida das aulas. É valorizado
o emprego de materiais diversos. As atividades em classe devem
ser enriquecidas com jornais, revistas, livros de histórias,
textos de embalagens, folhetos de propaganda, gibis, músicas
e outros materiais de interesse das crianças. |
Professor |
Tende
a seguir a cartilha, que estabelece a seqüência de
aulas. Prepara exercícios de fixação das
sílabas estudadas e avalia o desempenho dos alunos principalmente
com ditados, leitura oral de palavras e análise estética
da letra cursiva. |
Aconselha-se
o professor a ajudar a criança a reelaborar a escrita
espontânea e a entender os mecanismos usuais da língua.
Avalia o desempenho da turma de acordo com os níveis
de aprendizagem da língua. |
Aluno |
Deve
seguir a cartilha, lição por lição,
praticamente sem autonomia. Aprende o que o professor ensina.
Suas idéias sobre como funciona a língua não
tem importância nessa abordagem. |
Espera-se
que o aluno tenha liberdade para desenhar, criar histórias,
registrar idéias e interpretar as diversas formas da
escrita encontradas em objetos do dia-a-dia. Desde o começo
ele deve se sentir leitor e produtor de textos. |
Erro |
É
entendido como desvio do padrão e deve ser corrigido.
O que está na cartilha é o certo. |
Deve
ser avaliado de acordo com os estágios de aprendizagem
da língua e não necessariamente corrigido de imediato. |
Resultados |
A
cartilha define o caminho a ser seguido nas aulas. Entretanto,
a ênfase nas atividades com sílabas pode fazer
com que a atenção da criança se concentre
mais nas palavras do que nas idéias que elas querem expressar.
Depois, o aluno pode ter dificuldade para abandonar a leitura
silábica e concentrar-se na compreensão dos textos.
Ler pode se tornar um ato mecânico e cansativo, sem fluência. |
A
cartilha pretende favorecer a pesquisa de textos e o planejamento
das aulas. O aluno tende a adquirir uma visão geral da
língua, concentrar-se no significado das palavras e conquistar
autonomia na leitura e na interpretação de textos.
Essa proposta metodológica exige uma boa qualificação
do professor. |
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