O CAMINHO!!

Um dia, um homem precisou atravessar a floresta virgem para voltar a sua casa. Sendo animal racional, abriu uma trilha tortuosa, cheia de curvas, subindo e descendo colinas... No dia seguinte, um menino que passava por ali, usou essa mesma trilha torta para atravessar a floresta. Depois foi a vez de um idoso, líder de uma empresa, que fez seus companheiros seguirem pela trilha torta. Mais tarde, as pessoas começaram a usar esse caminho : entravam e saíam, viravam à direita, à esquerda, abaixando-se, desviando-se de obstáculos, reclamando e praquejando, até com um pouco de razão... Mas não faziam nada para mudar a trilha. Depois de tanto uso, a trilha acabou virando uma estradinha onde os pobres homens se cansavam sob cargas pesadas, sendo obrigados a percorrer em três horas uma distância que poderia ser vencida em, no máximo, uma hora, caso a trilha não tivesse sido aberta . Muitos anos se passaram e a estradinha tornou-se a rua principal de um vilarejo, e posteriormente a avenida principal de uma cidade. Logo, a avenida transformou-se no centro de uma grande metrópole, e por ela passaram a transitar diariamente milhares de pessoas, seguindo a mesma trilha torta feita pelo home... centenas de anos antes... Os homens tem a tendência de seguir como cegos por trilhas feitas por pessoas inexperientes, e se esforçam de sol a sol a repetir o que os outros já fizeram. Contudo, a velha e sábia floresta ria daquelas pessoas que percorriam aquela trilha, como se fosse um caminho único... Sem se atrever a mudá-lo. Muitas vezes nos chamam de ousados, chatos, metidos, etc. pois temos ousado por caminhos novos, pois quando nos falam que devemos seguir aquele caminho pois todos estão indo por ali e não sentimos paz no coração, buscamos a resposta do alto, os conselhos de Deus e através Dele, por Ele e com Ele à nossa frente seguimos novos desafios,acredito que a educação passa por uma mudança,e esta mudança esta em cada um de nós. Paulo Coelho

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Alfabetização com cartilhas tradicionais x cartilhas construtivistas


Métodos de ensino
 
Nos 80 anos, as cartilhas foram o principal instrumento de alfabetização dos brasileiros.
Cresce o número de representantes de uma novíssima geração de livros que adotam práticas construtivistas no seu método de alfabetização. Para quem conhece essa linha de ensino, isso parece uma falta de senso. Cartilha construtivista? - perguntará aquele construtivista que sempre execrou essas obras, por considerar que elas não levam em conta o ritmo individual dos alunos, nem as suas experiências anteriores.
Mas as cartilhas construtivistas não ensinam a ler a partir das sílabas, como as tradicionais. Estão cheias de poesias, canções, notícias de jornal, peças de publicidade e outros textos do dia-a-dia que, acredita-se, retratam a realidade e os interesses das crianças. Incentivam a produção de textos, como bilhetes para os pais, mesmo que os alunos ainda mal escrevam seus nomes. São práticas iguais às das escolas construtivistas.
"Não há método certo ou errado", defende o professor Paulo Nunes de Almeida, autor de Pipoca, uma das mais vendidas cartilhas construtivistas. "Os caminhos podem ou não podem ser adequados, de acordo com as habilidades do alfabetizador", diz ele. "Para quem se prepara para o trabalho, qualquer método trará bons resultados."

Métodos:
Tradicionais
O método começa pelas vogais

Quase todos os 82 milhões de brasileiros alfabetizados, que têm mais de 15 anos, aprenderam a ler em cartilhas tradicionais. O método varia muito pouco. Primeiro, elas apresentam as vogais e depois as sílabas, até chegar às palavras e às frases. Como o importante é a montagem silábica e não o conteúdo, surgem frases com pouco sentido, do tipo "O pato está ao pé do gato" ou "A menina tem caju e boneca".
Muitas dessas obras fizeram grandes inovações didáticas em sua época. A Cartiha do Povo (Editora Melhoramentos), que ainda é publicada, associa as vogais aos dedos da mão - novidade em 1928, quando foi lançada. Em 1950, saiu a Caminho Suave (Editora Caminho Suave). A grande novidade introduzida pela professora Branca Alves de Lima foi unir letras e ilustrações. O "f" é o cabo de uma faca, o "c" o rabo de um cachorro. "As sílabas vinculadas a desenhos elevam o interesse pela leitura", diz ela.

Renovadas
Visual muda, mas conteúdo é o mesmo

Algumas cartilhas, que adotam com vigor o método da silabação passaram por um processo de renovação. Elas capricham na edição, têm ilustrações bem cuidadas, listas de palavras para copiar, jogos de completar e cruzadinhas. Apresentam textos de leitura curtos, que servem para fixar as palavras estudadas, não para uma discussão do conteúdo. Fora isso, repetem a linha pedagógica consagrada pelas tradicionais.

Construtivistas
Alfabetização com palavras inteiras

Nas cartilhas inspiradas no construtivismo, a alfabetização é feita com palavras retiradas de situações conhecidas pelos alunos, como brincadeiras e festas. Não há preocupação em escolher termos fáceis. Tenta-se mostrar aos alunos que a leitura é útil e dá prazer. Para isso, são mostrados jornais, histórias e receitas culinárias. A prioridade é interpretar os textos. A decomposição de palavras em sílabas é tarefa extra, feita com cruzadinhas e outros jogos.

Veja as diferenças entre as duas formas de ensinar a ler.
Um pecado original das cartilhas
Todas as cartilhas que estão hoje ao alcance do professor, inclusive as construtivistas, cometem um idêntico e grave deslize, dizem seus críticos: associam de maneira direta a linguagem falada à linguagem escrita. Esse pecado induz os alunos a ler de modo mecânico, no mesmo ritmo em que falam, como se estivessem recitando, sem entender o conteúdo. "A escrita deve ser vista como um sistema independente, não como uma representação da fala", observa o especialista em escrita e leitura José Juvêncio Barbosa. "É por isso que se deve separar a fala da escrita desde o início da alfabetização".

Não basta alfabetizar
Nem todo mundo que aprende a ler é um bom leitor

O alfabetizado
Nem sempre o alfabetizado tem claro o que quer de um texto. Ao ler, transforma a escrita em fala. Prende-se à linearidade do que está escrito e lê linha por linha, palavra por palavra. Vai devagar, do começo ao fim. Como ler dessa maneira é chato, cansa-se logo.

O leitor
Sabe o que quer de um texto e como encontrar o que procura. Ao ler, concentra-se no significado do que foi escrito. Lê blocos, não palavras isoladas. Percorre o texto aos saltos, vai e volta, em busca de informação. Sente prazer com a leitura e não se cansa facilmente.







Veja as diferenças entre as duas formas de ensinar a ler:
Alfabetização com as cartilhas tradicionais
Alfabetização com as cartilhas construtivistas
Método Começa com as unidades mais simples da língua escrita (letras e sílabas) e segue em direção às mais complexas (palavras, frases e textos). Privilegia a memorização das estruturas gramaticais, deixando de lado a compreensão dos mecanismos da escrita. Na sala de aula, o professor enfatiza as unidades menores da língua, desenvolvendo na criança a percepção detalhada dos componentes da escrita. Parte das unidades globais da língua (palavra ou textos) e analisa seus componentes (frases, sílabas e letras), para em seguida recriar os textos e as situações apresentadas. É uma abordagem muito semelhante à da alfabetização sem cartilhas. A compreensão do significado dos textos é mais importante do que a memorização. A propriedade é a percepção abrangente das estruturas da língua.
Processo O aluno aprende por meio da associação entre imagens e sons. Só produz textos próprios depois de dominar boa parte das famílias silábicas e do processo de formação de palavras. A escrita normalmente é desvinculada de atividades práticas ou situações do dia-a-dia das crianças. Usa-se muito a cópia e o ditado como técnica de fixação de palavras. A letra cursiva é explorada desde o início do processo de alfabetização. Inicialmente o aluno escreve de uma maneira particular, a chamada escrita espontânea, e vai progredindo até chegar às formas convencionais da linguagem. Utiliza a leitura e a interpretação de textos variados, além de jogos com letras, palavras e frases. Nos exercícios, predomina a letra bastão, mas a letra cursiva também é exercitada.
Materiais A cartilha é quase o único material. Os textos de leitura são curtos, em frases simplificadas e estão desvinculados da linguagem oral. Buscam principalmente o uso das sílabas já estudadas. Raramente se usam materiais como livros de histórias, jornais, revistas e canções. As cartilhas, com textos literários e informativos, devem ser apenas o ponto de partida das aulas. É valorizado o emprego de materiais diversos. As atividades em classe devem ser enriquecidas com jornais, revistas, livros de histórias, textos de embalagens, folhetos de propaganda, gibis, músicas e outros materiais de interesse das crianças.
Professor Tende a seguir a cartilha, que estabelece a seqüência de aulas. Prepara exercícios de fixação das sílabas estudadas e avalia o desempenho dos alunos principalmente com ditados, leitura oral de palavras e análise estética da letra cursiva. Aconselha-se o professor a ajudar a criança a reelaborar a escrita espontânea e a entender os mecanismos usuais da língua. Avalia o desempenho da turma de acordo com os níveis de aprendizagem da língua.
Aluno Deve seguir a cartilha, lição por lição, praticamente sem autonomia. Aprende o que o professor ensina. Suas idéias sobre como funciona a língua não tem importância nessa abordagem. Espera-se que o aluno tenha liberdade para desenhar, criar histórias, registrar idéias e interpretar as diversas formas da escrita encontradas em objetos do dia-a-dia. Desde o começo ele deve se sentir leitor e produtor de textos.
Erro É entendido como desvio do padrão e deve ser corrigido. O que está na cartilha é o certo. Deve ser avaliado de acordo com os estágios de aprendizagem da língua e não necessariamente corrigido de imediato.
Resultados A cartilha define o caminho a ser seguido nas aulas. Entretanto, a ênfase nas atividades com sílabas pode fazer com que a atenção da criança se concentre mais nas palavras do que nas idéias que elas querem expressar. Depois, o aluno pode ter dificuldade para abandonar a leitura silábica e concentrar-se na compreensão dos textos. Ler pode se tornar um ato mecânico e cansativo, sem fluência. A cartilha pretende favorecer a pesquisa de textos e o planejamento das aulas. O aluno tende a adquirir uma visão geral da língua, concentrar-se no significado das palavras e conquistar autonomia na leitura e na interpretação de textos. Essa proposta metodológica exige uma boa qualificação do professor.

Os níveis da alfabetização

OS NÍVEIS DA ALFABETIZAÇÃO


PRIMEIRO NÍVEL → PRÉ-SILÁBICO I


NESSE NÍVEL O ALUNO PENSA QUE SE ESCREVE COM DESENHOS. AS LETRAS NÃO QUEREM DIZER NADA PARA ELE. A PROFESSORA PEDE QUE ELE ESCREVA "BOLA", POR EXEMPLO, E ELE DESENHA UMA BOLA.


SEGUNDO NÍVEL → PRÉ-SILÁBICO II


O ALUNO JÁ SABE QUE NÃO SE ESCREVE COM DESENHOS. ELE JÁ USA LETRAS OU, SE NÃO CONHECE NENHUMA, USA ALGUM TIPO DE SINAL OU RABISCO QUE LEMBRE LETRAS.
NESSE NÍVEL O ALUNO AINDA NEM DESCONFIA QUE AS LETRAS POSSAM TER QUALQUER RELAÇÃO COM OS SONS DA FALA. ELE SÓ SABE QUE SE ESCREVE COM SÍMBOLOS, MAS NÃO RELACIONA ESSES SÍMBOLOS COM A LÍNGUA ORAL. ACHA QUE COISAS GRANDES DEVEM TER NOMES COM MUITAS LETRAS E COISAS PEQUENAS DEVEM TER NOMES COM POUCAS LETRAS. ACREDITA QUE PARA QUE UMA ESCRITA POSSA SER LIDA DEVE TER PELO MENOS TRÊS SÍMBOLOS. CASO CONTRÁRIO, PARA ELE, “NÃO É PALAVRA, É PURA LETRA”.

TERCEIRO NÍVEL → SILÁBICO


O ALUNO DESCOBRIU QUE AS LETRAS REPRESENTAM OS SONS DA FALA, MAS PENSA QUE CADA LETRA É UMA SÍLABA ORAL. SE ALGUÉM LHE PERGUNTA QUANTAS LETRAS É PRECISO PARA ESCREVER “CABEÇA”, POR EXEMPLO, ELE REPETE A PALAVRA PARA SI MESMO, DEVAGAR, CONTANDO AS SÍLABAS ORAIS E RESPONDE: TRÊS, UMA PARA “CA”, UMA PARA “BE” E UMA PARA “ÇA”

QUARTO NÍVEL → ALFABÉTICO


O ALUNO COMPREENDEU COMO SE ESCREVE USANDO AS LETRAS DO ALFABETO. DESCOBRIU QUE CADA LETRA REPRESENTA UM SOM DA FALA E QUE É PRECISO JUNTÁ-LAS DE UM JEITO QUE FORMEM SÍLABAS DE PALAVRAS DE NOSSA LÍNGUA.

O Tira Teima do Construtivismo

O Tira Teima do Construtivismo

1. O que é construtivismo?
É o nome pelo qual se tornou uma nova linha pedagógica que vem ganhando terreno nas salas de aula há pouco mais de uma década. As maiores autoridades do construtivismo, contudo, não costumam admitir que se trate de uma pedagogia ou método de ensino, por ser um campo de estudo ainda recente, cujas práticas, salvo no caso da alfabetização, ainda requerem tempo para o amadurecimento e sistematização.

2. Em que distingue a pedagogia construtivista, em linhas gerais?

O construtivismo propõe que o aluno participe ativamente do próprio aprendizado, mediante a experimentação, a pesquisa em grupo, o estímulo à dúvida e o desenvolvimento do raciocínio, entre outros procedimentos. Rejeita a apresentação de conhecimentos prontos ao estudante, como um prato feito e utiliza de modo inovador técnicas tradicionais como por exemplo, a memorização. Daí o termo construtivismo, pelo qual se procura indicar que uma pessoa aprende melhor quando toma parte de forma direta na construção do conhecimento que adquire. O construtivismo enfatiza a importância do erro não como um tropeço, mas sim como um trampolim na rota da aprendizagem. O construtivismo condena a rigidez nos procedimentos de ensino, as avaliações padronizadas e a utilização de material didático demasiadamente estranho ao universo pessoal do aluno.


3. Com base em que o construtivismo adota tais práticas?
Com bases nos estudos do psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980 ), a maior autoridade do século sobre o processo da inteligência e de aquisição do conhecimento. Piaget demonstrou que a criança raciocina segundo as estruturas lógicas próprias, que evoluem conforme as faixas etárias definidas, e são diferentes da lógica madura do adulto.Por exemplo: se uma criança de 04 anos ou 05 anos transforma uma bolinha de massa em salsicha, ela conclui que a salsicha por ser comprida tem mais massa do que a bolinha. Não se trata de um erro, como se julgava antes de Piaget, mas de um raciocínio apropriado a essa faixa etária. O construtivismo procura desenvolver práticas pedagógicas sob medida para cada degrau de amadurecimento intelectual da criança.

4. Piaget criou o construtivismo?

Nada mais falso. Ao contrário do que muitos imaginam, ele nunca se preocupou em formular uma pedagogia: dedicou a vida a investigar os processos da inteligência. Outros especialistas é que se valeram de suas descobertas para desenvolver propostas pedagógicas inovadoras.

5. De onde vem, então o construtivismo?

Quem adotou e tornou conhecida a expressão foi uma aluna e colaboradora de Piaget, a psicóloga Emilia Ferreiro. Nascida na Argentina em 1936 e que atualmente mora no México. Partindo da teoria do mestre, ela pesquisou a fundo e especificamente, o processo intelectual pelo qual as crianças aprendem a ler e a escrever, batizando de construtivismo sua própria teoria.

6. Então é ela a autora da pedagogia construtivista?
Não. A exemplo de Piaget. Emilia se limitou a desenvolver uma teoria científica. Outros especialistas é que vem utilizando suas descobertas, assim como as de Piaget, para formular novas propostas pedagógicas. No começo o nome construtivismo se aplicava só a teoria de Emilia. Com o tempo passaram a ser chamada de construtivistas às novas propostas pedagógicas inspiradas em sua teoria, a própria teoria de Piaget e até mesmo pedagogias anteriores, porém compatíveis como a do educador soviético Lev Vigostsky (1896-1934).

7. O que a teoria de Emilia Ferreiro sustenta?
A pesquisadora aplicou a teoria mais geral de Piaget na investigação dos processos de aprendizado da leitura e d escrita entre crianças na faixa de 04 a 06 anos. Constatou que a criança aprende segundo sua própria lógica e segue essa lógica até mesmo quando se choca com a lógica do método de alfabetização. Em resumo, as crianças não aprendem do jeito que são ensinadas. A teoria de Emilia abriu aos educadores a base científica para a formulação de novas propostas pedagógicas de alfabetização sob medida para a lógica infantil.

8. Qual a lógica infantil na alfabetização, segundo Emilia Ferreiro?

A pesquisadora constatou uma seqüência lógica básica na faixa de 04 a 06 anos. Na primeira fase a pré-silábica, a criança não consegue relacionar as letras com os sons da língua falada e se agarra a uma letra mais simpática para escrever.Por exemplo,pode escrever Marcelo como MMMMMMMouAAAAAAAA. Na fase seguinte, a silábica, já interpreta a letra à sua maneira, atribuindo valor silábico a cada uma (para ela, COM pode ser a grafia de Mar-ce-lo, em que M =mar, C = ce, O = lo). Um degrau acima, já na fase silábico alfabético, mistura à lógica da fase anterior com a identificação de algumas silabas propriamente ditas. Por fim, na última fase a alfabética, passa a dominar plenamente o valor das letras e sílabas.

9. O construtivismo se aplica somente à alfabetização infantil?

Não. Ainda se encontra muito vinculado à alfabetização, porque foi por essa área que começou a ser desenvolvido, a partir da base teórica proporcionada por Emilia Ferreiro. Com tudo, práticas construtivistas devidamente adaptadas, já estão bastante difundidas até a 4 série do primeiro grau. A partir da 5 série, porém, quando cada disciplina passa a ser ministrada por um professor especializado, tais práticas são menos utilizadas, até pela relativa escassez ainda registrada de pesquisas teóricas equivalentes às de Emilia.

10. Por que o construtivismo faz restrições à prontidão na alfabetização infantil?

Com base nas teorias de Piaget e Emilia Ferreiro, os construtivistas consideram inútil a prontidão, ou seja, o treinamento motor que habitualmente se aplica às crianças com preparação do aprendizado da escrita. Para eles, aprender a ler e escrever, são algo mais amplo e complexo do que adquirir destreza com o lápis.
11. O aluno formado pelo construtivismo fica bom de raciocínio, com mais senso crítico, porém mais fraco de conhecimentos?
Não é bem assim. Os construtivistas insistem em que, embora o construtivismo enfatize o processo de aprendizagem, este não ocorre desligado do conteúdo: simplesmente não há como formar um indivíduo crítico e vazio. Portanto a aquisição de informações é fundamental.

12. Como o construtivismo transmite o conhecimento não passível de ser construído pelo aluno, como nomes de cidades ou de presidentes?

O construtivismo estimula a descoberta do conhecimento pelo aluno. Evita afogá-lo com informações prontas e acabadas, mas quando necessário não hesita em valer-se da memorização. Neste caso, a professora deve escolher o momento oportuno e criar situações interessantes para transmitir esses conhecimentos fugindo assim da rigidez da prática tradicional.

13. O construtivismo requer mais atenção individual ao aluno do que outras linhas de ensino?
Sim, mas não com a obsessão que às vezes se imagina. Se o construtivismo admite que cada aluno tem o seu processo particular de aprendizagem, a professora deve conhecê-lo, acompanhá-lo e fazer as intervenções adequadas. Mas isso não quer dizer centralização total, ao contrário. O construtivismo valoriza muito o intercâmbio entre os alunos e o trabalho de grupo, em que a professora tem uma presença motivadora e menos impositiva.

14. Como a professora pode dar atenção individualizada em classes de 30 a 40 alunos?

O ideal é que as classes não sejam tão numerosas. Mas, de qualquer modo vale a alternativa de trabalhar com duplas ou trios, agrupando as crianças por habilidades parecidas ou opostas, a critério da professora. No construtivismo, a professora aproveita a individualidade de cada aluno para o enriquecimento do grupo.

15. Por que o construtivismo contesta o ensino dirigido?

Não é bem isso. O construtivismo considera a sistematização do ensino necessária, mas aplicada com bom senso e flexibilidade. Contesta, sim, que o currículo seja uma imposição unilateral.
Uma camisa-de-força com etapas rígidas, sucessivas e inalteráveis. Não se aprende por pedacinhos, ms por mergulhos em conjuntos de problemas que envolvem vários conceitos ao mesmo tempo, afirmam os construtivistas.

16. Por que a alfabetização construtivista rejeita o uso da cartilha?

Primeiro, porque a cartilha prevê etapas rígidas de aprendizagem coisa que o construtivismo descarta. Segundo porque os construtivistas acham que a linguagem geralmente usadas nas cartilhas é padronizada, artificial, distante do mundo conhecido pela criança.

17. Por que o construtivismo faz restrições aos livros didáticos?

Pelo fato de a maioria deles apresentar o conhecimento em seqüência rígida, prevendo uma aprendizagem de conceitos baseada na memorização.

18. E ao ensino da tabuada?

O caso é diferente. A memorização é essencial para agilizar o cálculo mental, mas isso deve ocorrer após o aluno compreender o significado das operações aritméticas, com o a multiplicação. O que os construtivistas não aceitam é a memorização puramente mecânica conhecida como “decoreba”.


19. E a restrição ao ensino de regras gramaticais?
O construtivismo contesta que o ensino da gramática seja o meio para se levar o aluno a entender e dominar o processo de escrever corretamente. Isso se adquire praticando a escrita, mesmo com erros gramaticais. As regras identificam certas irregularidades da língua, mas para entendê-las é preciso tê-las percebido na prática.

20. Por que o construtivismo, em geral, não aceita o uso de fórmulas como as de matemática e as de sintaxe?
Não é que não aceite. A restrição é ao ensino de fórmulas com se fossem os conteúdos, pois elas não passam de esquemas sintéticos muito mais abstratos. A fórmula, em si mesma, não é o núcleo do conhecimento mas aquilo que o sustenta.

21. Qual é o papel da professora no construtivismo e em que difere do ensino tradicional?

Em vez de dar a matéria, numa aula meramente expositiva, a professora organiza o trabalho didático pedagógico de modo que o aluno seja o co-piloto de sua própria aprendizagem. A professora fica na posição de mediadora ou facilitadora desse processo.

22. O que é necessário para ser uma boa professora construtivista?

Mentalidade aberta, atitude investigativa, desprendimento intelectual, senso crítico, sensibilidade às mudanças do mundo combinado com a iniciativa para torná-las significativas aos olhos dos alunos e flexibilidade para aceitar a si mesma em processo de mudança continua. Ela precisa dar mais de si e precisa estar o tempo todo se renovando para sustentar uma relação com os alunos que não se baseia na autoridade mas na qualidade.

23. A professora construtivista precisa de uma orientadora pedagógica?

Sim. A orientadora é importante, não para tutelar a professora, mas para servir de
interlocutora com quem ela passa a refletir sobre a sua prática.

24. É possível ser construtivista em uma escola tradicional?

Em geral, o projeto pedagógico de uma escola tradicional não favorece nem leva em conta o trabalho de um professor que resolva tocar em outro tom. Embora seja difícil manter uma proposta individual num ambiente alheio a mudanças, há muitos casos assim. Além disso, deve-se considerar o fato de que é difícil uma escola passar a ser construtivista num só golpe. Isso ocorre de maneira paulatina, até porque o construtivismo do mesmo modo que respeita os processos de transformação por que passam os alunos, também deve respeitar os das próprias professora.


25.Existem manuais que ensinem a ser construtivista?
Manuais com tudo mastigado não. M as não falta material de apoio para que a professora comece a olhar seu trabalho de outro modo. O fundamental, de qualquer maneira é a prática. Calcula-se que são necessários ao menos dois anos de prática em classe reforçada por reuniões semanais com outros colegas, para tornar-se uma boa professora construtivista.





Entrevista com Esther Pillar Grossi sobre o método pós-construtivista

Aprender é bem mais do que estar informado, defende a educadora Esther Pillar Grossi. Para ela, “aprender é raciocinar, selecionar informações para estabelecer juízos e raciocínios”. Nesse sentido, a internet é um pequeno auxiliar, que não contém a força do aprendizado em si. “Essa força está na condução do professor para que o aluno construa esquemas de pensamento”, disse com exclusividade à IHU On-Line, em entrevista por telefone. Ela critica a falta de embasamento teórico dos professores, que mesclam em sala de aula o empirismo, o inatismo, o construtivismo e o pós-construtivismo. Essa base teórica periclitante, espécie de salada de frutas conceitual, é a responsável em boa parte pelo fracasso escolar, alfinetou. Não restam dúvidas que deve “haver uma reformulação completa na forma de ensinar”.

Graduada em Matemática, Esther tem mestrado pela Sorbonne, em Paris. Em 1970, com mais 49 professores de Porto Alegre, fundou o Grupo de Estudos Sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação (Geempa), tornando-se uma liderança na busca de soluções aos grandes problemas da escola pública brasileira. Desde abril de 2002, Grossi coordena, em Porto Alegre, o projeto O prazer de ler e escrever de verdade, realizado pelas ONGs Geempa e Themis, com recursos do Ministério da Educação, e que objetiva a alfabetização de mil mulheres em três meses. Por sua proposta inovadora, a realização do projeto está sendo especialmente acompanhada pela Unesco e pelo Unicef. De sua produção bibliográfica, citamos A coragem de mudar em educação (Petrópolis: Vozes, 2000), Por que ainda há quem não aprende? - A política (São Paulo: Paz e Terra, 2004) e Como areia no alicerce – Os ciclos escolares (São Paulo: Paz e Terra, 2004). Conhecida por pintar seus cabelos de várias cores, Esther Grossi afirma que é mais fácil trocar a cor das madeixas do que mudar a educação e a política.

Esther Grossi: O método pós-construtivista

Por: Márcia Junges e Patricia Fachin, 10/11/2008

IHU On-Line – Em que consiste a psicogênese?

Esther Grossi - A psicogênese é uma das coisas mais complexas e novas do ensino. Esse é o ponto-chave da questão. Ela é a fatia intermediária da aprendizagem entre o conteúdo científico e o processo do próprio aluno, que ele próprio constrói através de circunstâncias do seu próprio cotidiano. O aluno formula hipóteses sobre aquele campo conceitual. Ensinar nada mais é do que ir ao encontro dessas hipóteses, acolhê-las e depois superá-las. A psicogênese é essa seqüência de passos que um aluno constrói quando quer compreender algo da realidade. A pessoa não compreende esse algo diretamente, com objetividade. Primeiro, é construída alguma coisa meio mítica, meio fantasiosa, mas que é essencial para que se chegue a uma compreensão objetiva.

IHU On-Line – De que maneira esse método contribui para eficiência do aprendizado e enfrenta as lacunas educacionais?

Esther Grossi - Só compreendendo a psicogênese é que será possível ensinar a todos. E, a partir daí, irei ao encontro do que cada aluno pensa e fujo do ensino que ignora o processo do aluno e só pensa nos conteúdos científicos.

IHU On-Line – O que é o método pós-construtivista? De que maneira o método pós-construtivista alicerça as didáticas geempianas para alfabetização e pós-alfabetização?

Esther Grossi - O construtivismo foi concebido por Piaget e tem características essenciais: o conhecimento se constrói, e não é captado de um bloco ou transmitido de fora para dentro. Ele é uma construção. Essa foi a grande descoberta piagetiana. Contudo, Piaget não incorporou profundamente nem o aspecto social, nem o aspecto cultural na sua visão da construção dos conhecimentos. Ele pensava que construíamos os conhecimentos em contato com o objeto do conhecimento. Vygotski, Wallon, Sara Pain e Gerard Vergnaud se deram conta de que o conhecimento, em primeiro lugar, se dá na troca, na interação, como uma essencialidade, e em segundo lugar, na psicogênese sobre a qual acabamos de falar. Portanto, é preciso haver uma reformulação completa na forma de ensinar. O pós-construtivismo é o acréscimo, principalmente, da dimensão social nos fenômenos da aprendizagem.

IHU On-Line – Em que sentido esse método representa um avanço na reformulação dos currículos?

Esther Grossi - Toda vez que esclareço com mais objetividade como algo acontece, isso terá, certamente, efeitos positivos no processo de aprendizagem. Através dessa metodologia, a alfabetização de adultos, por exemplo, é possível em três meses. Crianças não levarão mais do que um ano para se alfabetizarem. Então, a eficácia é muito maior.

IHU On-Line – Recente pesquisa mostrou que o ensino brasileiro é péssimo. A que a senhora atribui esse resultado de fracasso escolar?

Esther Grossi - Ao fato de que as pessoas não colocam como fundamento de sua prática uma base teórica sólida. Os professores misturam inatismo, empirismo, construtivismo e pós-construtivismo. Fazendo essa “salada de frutas”, falta consistência teórica à prática dos professores.

IHU On-Line – No artigo “O inssino no Brasiu è otimo”, a senhora diz que para melhorar o ensino é necessário uma mudança completa no jeito de ensinar. Qual é a sua proposta?

Esther Grossi - Em primeiro lugar, os professores devem se apropriar de uma proposta que seja solidamente embasada. Se esta proposta for calcada no pós-construtivismo, é preciso se apropriar dessa teoria, e, ao mesmo tempo, dessa prática, para depois realmente aplicar isso em sala de aula. Sem base teórica não é possível uma prática eficiente. Para isso, é preciso muita pesquisa e vínculo entre os educadores os pesquisadores.

IHU On-Line – Considerando os índices pífios no ensino brasileiro, qual é o maior desafio quando se trata de alfabetizar a todos?

Esther Grossi - Aplicando o que há de novo, que é a metodologia baseada em Emília Ferreiro e na continuação de seus estudos pelo Geempa, temos condições de solucionar essa “praga” que é a não aprendizagem da leitura e da escrita em nosso país, onde temos 50 milhões de analfabetos adultos.

IHU On-Line – O que a senhora pensa a respeito dos livros didáticos utilizados em nossas escolas? Eles estimulam os alunos a serem participativos e criativos, ou primam por uma repetitividade que não dá sentido ao que deveriam aprender?

Esther Grossi - Os livros didáticos, até hoje, estão baseados em pressupostos equivocados. Eles podem ser uma muleta para o professor, mas a aprendizagem resultante de seu uso é muito pequena. É isso que aparece nas avaliações.

IHU On-Line – E que pressupostos equivocados seriam esses?

Esther Grossi - Seriam os pressupostos inatistas, empiristas. Pensar que o conhecimento já está dentro de nós e é apenas uma questão de maturação, como propõem os inatistas, ou acreditar que todo conhecimento vem de fora e chega até nós através dos sentidos, ao modo dos empiristas, ou ainda pensar que se aprende individualmente em contato com o objeto do conhecimento é uma forma equivocada de entender o processo de aprendizagem.

IHU On-Line – A inserção da internet e de novas tecnologias na escola interferem ou modificam o processo de alfabetização? Como percebe essas ferramentas em sala de aula?

Esther Grossi - A interferência pode ser positiva, com certeza, se o professor não exagerar na solicitação de informações. A internet enriquece as informações, mas aprender é muito mais do que ser informado. Aprender é raciocinar, selecionar informações para estabelecer juízos e raciocínios. Então, a internet pode ser um auxiliar, mas é, indiscutivelmente, um auxiliar pequeno. Ela não tem a força em si. Essa força está na condução do professor para que o aluno construa esquemas de pensamento.


Acesso ao:http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1